[One-Shot] Não Haverá Outra Chance

Ellen entrou correndo dentro da biblioteca. Não queria vê-lo nunca mais. Não depois de tudo que ele havia feito com ela. Aquela tarde, aquele momento, ela havia chegado ao seu estopim. Josh veio logo em seguida. Ela tentou segurar a porta da biblioteca com as mãos, mas estava totalmente molhada e trêmula. Desistiu de medir forças com ele e saiu correndo para o meio das estantes. Mas não importava aonde ela fosse, ele sempre a seguia, como uma sombra.

No meio da perseguição, Ellen escorregou no chão. Suas sandálias estavam molhadas por causa da chuva e o chão era liso, favorecendo a sua queda. Alguns segundos antes de se chocar contra o piso, ela foi segurada por ele. Depois de se debater um pouco, tentando se livrar daquelas mãos quentes e grandes que seguravam seus pulsos com certa força, ela desistiu se sentando no chão. Quando parecia que Ellen havia se acalmado, Josh soltou seus pulsos, dando tempo suficiente para que ela pegasse dois livros da estante e jogasse em sua direção. Ele apenas se defendeu com o braço.

– Fique longe de mim. Que parte do meu bilhete você não entendeu? - Na verdade, não havia muito que entender. Ela apenas deixou um bilhete, num pedaço de papel rasgado, dentro da sua caixa de correio. “Acabou”. Cada letra havia levado quinze minutos para ser escrita. Para deixar o bilhete, meia hora. Por muitas vezes ela desejou dar meia volta, voltar para casa e rasgar aquelas seis letras que mudariam sua vida para sempre. Mas era definitivo. Ela não poderia voltar atrás. Não. Ela não deveria voltar atrás.

– Eu não posso acreditar que você estivesse falando sério. - Ele novamente tentou segurar as mãos finas de Ellen, mas ela se afastou mais ainda dele, jogando mais livros. De muitos que vieram em sua direção, ele só conseguiu se defender de alguns.


– Parecia que eu estava mentindo? - Ela respondeu logo em seguida, tentando segurar as lágrimas. Não queria parecer patética naquele último momento. Sim, aquele seria seu último momento juntos. Ellen não precisaria se preocupar em vê-lo nunca mais. Estaria mudando de país no dia seguinte.

– Parecia que não era você. - Desde o começo, ele esteve ciente sobre a sua mudança, mas talvez a revelação daquele bilhete tenha sido demais para ele. Não era mais problema dela. Se ele quisesse ter evitado metade daqueles problemas, talvez tivesse agido de forma diferente.

– Então deveria se acostumar. As pessoas mudam, você sabe disso melhor do que ninguém. Você mudou muito. Você tem idéia de como eu me senti nesse último ano? - Ellen tentou se afastar mais ainda, mas não tinha forças suficientes. Havia andado do centro da cidade até a escola, quando encontrou Josh, para logo em seguida sair correndo, sem querer vê-lo.

- Desculpa. - Ellen ficou admirada com o que ouviu que acabou perdendo a reação. Era a primeira vez que ela o ouvia pedir desculpas e talvez fosse essa a explicação dele ter abaixado a cabeça enquanto isso.

- Mas agora é muito tarde para voltar atrás. – Ela começou a rir. Rir. Rir para não chorar daquela situação patética. Naquela cabeça confusa, Ellen só conseguiu pensar no seguinte detalhe, que a fez perder diversas noites de sono. – Eu sempre achei que estava perseguindo ele, mas fui a única que foi perseguida.

Desde o primário, Ellen foi apaixonada por ele. Por motivos que ela agora imaginava ter sido um sonho, pelos quais ele já não se lembrava mais. Uma bolada. Uma bolada há dez anos havia levados os dois onde estavam agora. Agora, Ellen tremia de frio. O efeito da chuva começava a fazer efeito.

– Eu precisei ver o que é te perder para dar valor ao que eu tinha. – Por um segundo, ela imaginou que, com aquelas palavras ela seria capaz de perdoá-lo. Mas isso seria dar um passo para trás na sua vida. Ela não queria retroceder mais ainda. Ela queria seguir em frente e para isso, teria que aprender a esquecê-lo, mas depois que você fica apaixonada pela mesma pessoa por dez anos, isso se torna quase impossível. Discretamente, ela tirou outro livro da estante e jogou em sua direção.

- PARE DE BRINCADEIRAS! ISSO NÃO É UM TIPO DE PIADA, MALDITO! – Ela continuou a jogar livros. Ele não tinha nem tempo de se defender deles.

- Ellen...

- Pare com isso! Apenas pare com isso! Desde que eu te conheci que a minha vida se tornou uma confusão! Eu me tornei o tipo de pessoas que eu nunca quis ser. – E era verdade.

Quando era pequena, Ellen estava decidida a ser alguém importante. Não se importaria com a aparência, mas sim com o seu eu interior. Nunca se arrumaria achando que passaria por um garoto e seria notada por ele. Mas não foi exatamente isso que aconteceu. Depois de conhecê-lo, tentava sempre estar arrumada. Não deixou de se importar com seu eu interior, mas sua preocupação principal era parecer legal perto de Josh. Isso fez com que ela se afastasse de todos a sua volta, apenas para idolatrá-lo.

- Por que eu fiquei desnorteada? Eu seria uma pessoa muito mais calma e autêntica se eu nunca tivesse te encontrado. Por que alguém como você me faz ficar tão desnorteadamente... – Josh segurou as mãos de Ellen, para que ela parasse de jogar livros. Mas não com força como da última vez. Segurou-as gentilmente ao mesmo tempo, de forma que ela não poderia se livrar do laço criado pelos dedos dele. Fazia tempo desde a última vez que ele havia entrelaçado seus dedos nos dela daquela forma gentil.

-... Desnorteadamente apaixonada. Te amo. - Ellen não conseguiu agüentar mais. Libertou as lágrimas que a tanto se esforçavam descer os rosto fino e pálido da garota. – Qual o problema de te amar? Por que tinha que ser alguém como você? – Os soluços vieram logo em seguida. – Eu não queria isso... Parece até que não controlo meus sentimentos...

Enquanto ouvia atentamente tudo que Ellen dizia, tentou limpar as lágrimas dela, mas elas teimavam em reaparecer, unidas a novo soluços. Ele soltou seus braços. No estado em que se encontrava, ela não seria mais capaz de ir a lugar nenhum.

- Por muito tempo, eu desejei te odiar. Tudo o que eu quero agora é te esquecer. Mas eu não consigo... Você não imagina como é ruim, você detestar uma pessoa e ao mesmo tempo amá-la. Você fazer de tudo para esquecê-la e ao mesmo tempo, não consegue parar de pensar nela. É horrível! – Josh não sabia o que dizer. Na verdade, não havia o que dizer. Palavras não seriam capazes de reverter àquela situação. Mas com gesto simples, ele tentou acalmá-la.

Abraçou-a.

Ela fechou os olhos, afundando o rosto em seu ombro. Ele podia sentir as lágrimas quentes molharem a gola da sua camisa. Mas era bom. Era bom ter Ellen em seus braços, como a garotinha indefesa que ela era. Se pudesse, ficaria ali para sempre. Mas o tempo não tem piedade. Ele não pára, não se apressa, nem diminui a velocidade. Ele mantém um passo uniforme, pelo resto da eternidade.

- Pare de chorar. – Ele ordenou. Aquilo só fez com que mais lágrimas rolassem pelo rosto da garota.

- Seu idiota, estou chorando por sua causa! – Ele sorriu para si mesmo enquanto afagava os cabelos escuros de Ellen, que ainda estavam molhados, fazendo-os parecerem mais escuros do que o que eles realmente eram. Ela gostava daquela sensação. De sentir os dedos de Josh deslizando pelo seu cabelo, enquanto era firmemente presa pelos braços dele. Era somente assim, que se sentia única, completa. – Uma vez que eu começo a chorar, eu não consigo parar mesmo que eu queria.

Revelou, sem sair da posição atual. Ele a afastou de seus braços por um segundo, o suficiente para encontrar seus lábios, selando nos seus. Das muitas vezes que eles já tinham se beijado, aquele tinha sido o único que Ellen nunca se esqueceria. De certa forma, algo o tornava único. As mãos de Josh continuavam a afagar seus cabelos, enquanto as de Ellen seguravam levemente a face dele. Ele inclinou um pouco o corpo de Ellen para trás, enquanto a mesma tentava raciocinar algo com nexo, sem sucesso, embora as lágrimas tenham parado de rolar pelo rosto dela. Depois de alguns minutos, mais uma vez, traídos pelo tempo, eles se separaram. Dessa vez, ele encostou a testa no ombro dela.

- Por favor, esqueceu tudo o que aconteceu. Vamos recomeçar do zero.

- Não posso. Não existe perdão. As pessoas simplesmente esquecem o que aconteceu.

- Então esqueça. Substitua as memórias antigas por novas que ainda virão.

- Você esquece que eu vou me mudar amanhã. Mas... Agora, eu sinceramente, não quero.

- Então não vá.

Depois daquela frase, incontáveis beijos vieram depois. Não naquele mesmo dia, mas nos que se seguiram, enquanto estavam juntos. Porque agora, nem o tempo seria capaz de vencê-los. Não importava se ele continuasse com o mesmo passo de sempre, nem mais nem menos, o tempo não iria separá-los novamente. Algumas vezes, o amor pode vencer o tempo. Sentimentos também têm esse poder.

Sentimentos que transcendem o tempo.