Enfermaria

Jake chegou calmamente na enfermaria, reparando que tudo estava exatamente como deixara. Sorriu, aliviado.

Camel foi em sua direcao, sorrindo tranquilo.

- Acho que ainda nao leu aquilo, nao e? - perguntou o chara, apontando para algumas folhas de papel.

Jake sibilou e concordou. Nao havia notado aquelas folhas. Foi entao em direcao a elas para analisar seu conteudo. Nela, listava as pessoas com saude fragil, das quais ele teria que ter uma resposabilidade maior. Riu um pouco ao ver o nome de Yuuto na lista, bem discretamente. Dobrou entao as folhas em um quadrado pequeno, e o colocou no bolso do sobretudo.

Como a enfermaria estava vazia e silenciosa, pensou que nao teria problemas em sair rapidamente para almocar. E assim o fez, junto com Camel, deixando a enfermaria trancada.

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Voltou a enfermaria. Agora, deixando a porta aberta.

Pegou um livro qualquer e começou a ler, sentando-se num banquinho.

Maruru continuou impassivel, mesmo depois dele mostrar a seringa.
- É a primeira vez que eu vejo um Shugo Chara médico.

Eles pararam em frente a enfermaria. Antes de entrarem, ela se apresentou.
- Eu me chamo Maruru.

Camel chegou na enfermaria, quando Jake estava cochilando na cadeira (que por sorte, era estofada). Sua face era realmente angelical quando dormia. Camel deu risinho, mas não fez nada com o enfermeiro.

- Prazer, Maruru. - disse no ar, para a chara.

Camel foi até uma das gigantes macas, e sentou-se, sorrindo. Parecia uma garota enquanto fazia isso, o que não tinha solução, afinal, sua aparência era mesmo afeminada. Ou pelo menos ele próprio achava isso.

- Se sente melhor? - perguntou, esperando a chara se aproximar dele.

Maruru entrou e viu um homem dormindo sentado. Bufou para si mesma.
- Humanos. Humpf!

Ficou meio recorosa, mas acabou por se sentar ao lado de Camel.
- Mais ou menos. Ficará perfeito quando eu sair desta escola.

Camel ficou pensativo, e transparente como era, deixou isso aparecer claramente em suas feições. Camel gostava da escola, então sentiu dificuldade em entender a chara.

- Hum... mas o que aconteceu pra que queira sair daqui? - não sabia se era o certo a perguntar, mas ficou realmente curioso.

Colocou seus pequenos braços pra frente, inclinando seu corpo um pouco mais para a mesma direção.

Jake ainda dormia.

Maruru hesitou. Não deveria comentar essas coisas com um desconhecido, mas sentia a necessidade de desabafar com alguém.
- Bem ... antes, meu dono trabalhava num restaurante e tinha uma anmroada desprezível! A pior pessoa que você pode imeginar. Depois de muito esforço, ele tomou algum juizo na cabeça e acabou se separando dela. Só que ela veio para esta maldita escola e ele veio atrás. Aquele idiota. Quanto mais perto ele fica dela, mas ele é contaminado pela maldade daquela pessima alma.

Ela fehcou os punhos com força. Odiava aquela garota com todas as forças. Achava-a uma loira falsa e burra. Mas o que ela mais detestava não era a personalidade da garota. Era que Souma perdia tanto tempo com ela que se esquecia de Maruru. Queria sempre a atenção dele, mas era cada vez menos acessível.

Camel notou que a garota estava voltando a ficar com raiva, e isso não era bom. Colocou uma das mãos sob o ombro de Maruru, confortando-a.

- Você já conversou com ele sobre isso? - perguntou. - Não falando que não gosta dela, porque pelo que parece, não adiantaria... Mas sobre tudo que envolve? - falou, seriamente. - E sempre com calma. - sentiu necessidade de reforçar.

Jake mexeu-se um pouco, mas continuou dormindo.

Maruru suspirou.
- Todos os dias eu tento falar isso. E a pior parte não é essa. Ele é 4 anos mais velho. Faça as contas. - Maruru se aproximou de Camel e começou a sussurrar. - Ela é estudante. Ele é funcionário.

Camel assentiu, e então pensou um pouco antes de falar.

- Se você falar normalmente, como você estava antes... nervosa, ele nunca vai te escutar. Eu sei que já disse isso, mas... É a única forma d'ele te escutar. - insistiu. - Sabe, chama ele pra conversar. Deixe que ele fale sobre ela, e então você argumenta. - disse. - Ok, demorará muito tempo, mas não vai ser em vão. No mínimo, ele vai entender seu ponto.

O chara então parou um tempo, esperando a resposta de Maruru. Então, se aproximou mais ainda desta, colocando suas mãos na cabeça desta.

- Ainda está doendo?

Maruru assentiu.
- Eu não vou desistir. Mas ele provavelmente não vai escutar. - Maruru relemão, estou bem agorabrou todas as vezes que já tentara convencê-lo. No final das contas, acabava sempre do mesmo jeito. Os dois sem se falar por alguns dias e ela sendo, novamente, esquecida.

Sua linha de raciocínio foi interormpida quando Camel se aproximou.
- Não muito, mas se eu tocar, provavelmente vai doer.

- Sabe que se precisar de ajuda, pode contar comigo. - sorriu, quando Maruru respondeu sobre o seu dono.

Mas, logo depois, já estava tratando da chara. Se aproximou ainda mais desta, olhando fixadamente para a região que supostamente estava doendo.
- Então me desculpe, mas eu vou ter que tocar. - disse, cauteloso. - Me fale quando incomodar mais, ok?
Camel então foi passando a mão sobre a cabeça de Maruru, vendo onde podia ou não estar doendo.

Maruru assentiu, esperando, meio ansiosa, enquanto ele passava a mão pela cabeça dela. Quando Camel começou a tocá-la mais na parte de trás da cabeça, ela acabou soltando um pequeno gemido.
- Ai! Nesse lugar está doendo muito!

Camel assentiu.
- Certo, Maruru. - disse. - Agora tente relaxar, que eu vou fazer com que a dor alivie. - Dito isto, começou a tratar da chara.

Jake acordou nesta hora, ainda meio sonolento. Ajeitou os óculos, e passou a mão nos cabelos. Não sabia como estava, mas quem ligava?

A enfermaria estava do jeito que a deixara, exceto pelo fato de ter uma outra chara por lá. Se aproximou desta e de Camel - que cuidava dela - com seu costumeiro sorriso.

- Olá ~ - cumprimentou, numa voz amigável.

Não falou muitas coisas depois, afinal, a chara estava machucada e podia não querer conversar.

Maruru ficou calada. De certa forma, estava com medo do que ele iria fazer. Toda vez que ela se machucava, por mais bobo que fosse, Souma sempre cuidava dela como uma boneca. Estava acostumada a isso. Ter outra pessoa cuidando dela era um pouco, desconfortável.

O dono de Camel acordou e dirigiu a palavra a ela. Ficou meio recorosa e acabou por ignorar. Segurou com força a ponta das duas fias presas ao seu cabelo.
- Isso ... vai doer? - Ela perguntou, com medo da resposta.



Erika entrou na enfermaria rapidamente. Olhou para dois Shugo Chara sobre a maca, mas apenas ignorou o detalhe.
- Jake, você vai amanhã para a viagem ou vai ficar mofando no colégio? Preciso saber para incluí-lo na lista.

Namie se aproximou dos dois Shugo Chara, meio recorosa.
- Oi Camel ... hã, aconteceu alguma coisa?

Jake continuou sorrindo, apesar de ter sido ignorado pela pequena. Tinha o mesmo bom humor de sempre, normalmente inabalável. Camel entretanto, cuidava miraculosamente de Maruru. Tentava fazer tudo de maneira delicada e suave, para que o incômodo fosse o menor possível. O que não era difícil para ele.

- Não. - sorriu confiante. Ele faria com que não doesse minimamente.

Então ouve-se passos fortes e apressados entrando na enfermaria. Era Erika. Jake faz seu caminho até ela, escutando o que esta tinha por falar, sorrindo. Escutar tudo com aquele já rotineiro mau-humor o deixava de certa forma bem, como se aquilo o voltasse para a realidade. Ele não sabia ao certo, mas era algo que estava começando a gostar.

- Claro que vou! - falava alegre. - Precisam de alguém para cuidar bem de todos, certo?~ - Sentiu vontade de acrescentar mais coisas na sentença, algumas até voltadas a Erika, mas achou melhor calar-se por ali.

A chara da professora dirigiu-se até Camel e Maruru de toda forma.

-Ahh ~ Namie, certo? - disse Camel, reconhecendo a voz, mas sem tirar os olhos de Maruru. - Estou tratando d'ela. - respondeu.

Não demorou nem 5 minutos quando o chara enfermeiro se afastou um pouco da pequena de cabelos longos, sorrindo animadamente para esta.

- Pronto ~ - falou feliz, assemelhando-se a Jake. - Doeu muito?

Erika revirou os olhos.
- Não é exatamente como se você fosse encessário, mas enfim. - Ela olhou bem para os olhos do enfermeiros. Se fosse a Erika antiga, teria reparado nos olhos vermelhos brinlhantes, que inspiravam confiança, mas a Erika atual só percebia as pálpebras inchadas. Havia dormido. - Estava cochilando? Enquanto todos estavam trabalhando, você estava cochilando?

- Ah, entendo. - Namie disse, calando-se novamente, enquanto ficava de pé atrás de Camel, apenas observando o trabalho deste.

Maruru, agradeceu timidamente. Não havia doído quase nada.
- Arigato ...

Jake sorriu maroto, desta vez.

- Eu não sou necessário? Tem certeza? - falava, um tanto quanto sarcástico, mantendo o mesmo sorriso. Ajeitou os óculos, quando a professora prosseguiu. - Como pode ver, eu cumpri meu trabalho apropriadamente, e não tenho nada pendente. - Jake continuava sorrindo. É íncrivel, de certa forma, como o enfermeiro praticamente não pára de sorrir.

Enquanto isso, Camel estava feliz que tinha tratado bem de uma chara. Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa à Maruru ou Namie, Kyome entrou correndo desesperadamente na enfermaria, em direção ao chara enfermeiro, agarrando-lhe pela cintura praticamente aos prantos. Não falou nada.

Camel ficou dizendo 'Relaxa' e 'Calma' algumas diversas vezes, tentando confortá-lo.

Erika agarrou Jake pelo jaleco e o puxou para baixo, de forma que ele ficasse da altura desta.
- Será que você não pode tirar esse sorriso do rosto por nada? Chega a ser irritante!

Maruru se espantou ao ver um Shugo Chara entrar chorando na enfermaria daquela forma. Estaria ele machucado? Ela e Namie se entre-olharam e esperaram este se acalmar para que explicasse o que havia acontecido.

Jake, ainda assim, continuava com o sorriso em seu rosto.

- Eu não fico sorrindo por nada. - falou, num som quase uníssono. - Eu me sinto bem e feliz e... ele apenas surge. Naturalmente, como agora. - comentou, abrindo um sorriso ainda mais largo. - Mas, pensando melhor nisso, Erika... eu nunca vi você sorrir. - fitou-a com um olhar mais sério. - Algo não te deixa ficar exatamente feliz, Erika? - sem segundas intenções, se aproximou um pouco mais desta, embora ainda estivessem um pouco distantes.

Camel continuou junto com Kyome, até que este ficara mais calmo.
- Eu... não quero... sumir... - dizia emendando as palavras, ficando complicado para entender. Kyome ainda tinha lágrimas nos olhos.

Erika ignorou a aproximação de Jake e o largou, fechando a cara.
- Isso não tem importância e também não é da sua conta.

Ela apenas bufou e lançou um olhar raivoso para Namie. Esta, meio relutante em deixar aquele Shugo Chara sozinho, apenas foi em direção a sua dona.

Maruru ouviu as palavras do Shugo Chara que havia acabado de chegar chorando. Se levantou e adquiriu confiança para falar com ele.
- Eu entendo como se sente. Eu mesma já desapareci uma vez e é a pior coisa que pode acontecer. Me diz quem é teu dono, porque ele merece umas boas pancadas!

Jake sorriu, embora um pouco mais melancólico agora.

- Não devia ser assim tão... fechada e rígida. - comentou. - Qualquer dia desses, tente sorrir. Faz bem.

O enfermeiro então foi se distanciando, começando a procurar algum documento qualquer entre as suas coisas. Talvez também estivesse só matando tempo.

Camel continuou segurando o Kyome, que estava pouco a pouco se acalmando. Timidamente, Camel acenou para Namie, que se afastava.
- Isso não é exatamente um consolo, sabia? - disse Kyome para Maruru, abrindo novamente o rosto tristonho. -Ele é Yuuto... um professor.

Passaram alguns instantes, então Kyome criou coragem e perguntou mais coisas.
- Por que voce desapareceu? E como voltou? - era desinformado quanto a isso, já que nunca antes passara por tal situação.

Erika ignorou o comentário.
- Talvez, quando eu estiver pelo menos um pouco feliz eu faça isso. - Ela respondeu séria, sainda enfermaria.

Maruru juntou as sobrancelhas para Kyome.
- Eu não estava te consolando. Estava desafiando. Consolo é para os fracos que não se impõe! - Ela responde séria, esperando que o Shugo Chara tomasse uma atitude, mas a única coisa que este fez foi pergutnar como ela havia desaparecido. Maruru encarou o chão por um momento, mas não desistiu de contar à ele. - Eu represento o lado adulto de meu dono. Um dia, brigamos por um motivo pessoal e acabei dizendo o que não devia: "Cresça e seja adulto pelo menos uma vez". Ele tomou a primeira decisão adulta dele e por um lado eu estava feliz. Mas isso significava que ele também não precisaria mais de mim. Foi ai que eu fiquei presa dentro do meu ovo por muito tempo, até que ele voltasse a ser queme ra antes e eu pudesse sair novamente.

Suspirou. Esse era o destino dos Shugo Chara. Se seu dono deixa de acreditar, você desaparece. Se ele conclui o sonho, você retorna para o ovo.

Jake sorriu, um pouco mais animado.
- Eu vou esperar por isso, Erika. - falou, acenando para a professora que se afastava.

Enquanto isso, Camel apenas continuava segurando e dando apoio ao Kyome, que escutava avidamente Maruru. Lentamente, o segundo foi ficando mais calmo, até parar de choramingar.

- É como se fosse um dilema... - Kyome começou a falar, nada animado. - Por mais que você fique feliz e queira que nosso dono conquiste o sonho... Você não quer que isso aconteça pra não sair do lado dele... não é? - olhava para baixo. - Mas no meu caso... ele não quer mais ser quem ele é mesmo! - Tirou as mãos que ainda prendiam-o perto de Camel, e agora colocava em sua face, cobrindo os olhos.

Camel aproveitou o momento e começou a acariciar o cabelo azulado de Kyome, tentando o acalmar. Eu... nunca passei por nenhuma dessas situações..., pensava, sem saber o que falar para ambos.

- É verdade... - Agota, Maruru é que não sabia o que falar para ele. Começou a flutuar e foi até o homem que anteriormente estava dormindo.

- Você! Por que os humanos sempre dão um jeito de seguir o caminho errado? Medo de mostrar quem realmente são?

Jake escutou o comentário e pensou um pouco. Mas no final, tudo o que fez foi sorrir e dar de ombros. O enfermeiro não sabia muito disso, já que sempre seguiu seu sonho, não importasse as circunstâncias, apesar dos altos e baixos. Mas sabia que, se falasse de uma forma qualquer, a chara acabaria irritada e isso era contra sua própria norma e lema.

- Talvez eu não seja a pessoa certa para se perguntar isso... Eu sempre tentei seguir meu sonho e sempre mostrei meu verdadeiro eu. - disse, sorrindo. - Mas sempre tem as circunstâncias e a sociedade... you see. - falou, comentando um pouco em seu idioma nativo, inglês. - Ou o medo.

Não falou mais nada durante um tempo, e pensava um pouco mais pra ver as melhores palavras para continuar. Durante esses poucos instantes, lembrou-se do assassinato dos pais, e isso deu-lhe um aperto no peito. Aquela foi a única época que viveu medroso e desmotivado, mas aquilo não tinha realmente relação com "não demonstrar seu verdadeiro eu". Era uma fase, por causa de um evento marcante e dramático.

- A maioria das vezes, é o medo do que as pessoas vão achar e comentar. Outras vezes, porque simplesmente não se sentem motivados para seguir o sonho ou ser quem é... - tentava explicar, mas não sabia ao certo como. - Desculpe. Não sei como falar sobre isso. - mordeu os lábios, vencido.

Camel só escutava com um sorriso no rosto, de certa forma, feliz por ter um dono como Jake.