Minha Persocon ri com o Bob Esponja.
- Mike, você devia se explicar. – disse Sunny trocando os algodões do meu nariz.
- Bem que eu tentei! – eu disse fanho. – Tá muito feio?
- Só um pouco de sangue. Você não quebrou o nariz.
- Onde ela está?
- No seu quarto, vendo televisão.
- Não imaginei que aquela mulher fosse tão forte!
- É porque ela não é uma mulher.
Uma dúvida surgiu na minha cabeça, um medo, para ser mais exato.
- Por favor, me diga que ela não é um trave...
- Ela é uma Persocom.
E o alívio voltou.
- Ela é uma o que?!
- Per-so-com. Vai dizer que nunca viu uma dessas por ai?
- Já, mas... ela é tão... real!
- E seria mais, se não fosse pelo buraco na nuca dela. – ela se levantou.
-Você está brava Sun?
- Mike, você pelo menos sonha, quanto custa um robô desse?
- Umas cem pratas?
- Cinco mil dólares.
Fiquei pasmo. Quem em sã consciência iria gastar cinco mil dólares em um robô?
- Elas são usadas muitas vezes como empregadas, mesmo sendo inteligentes. – ela se afastou mais, agora olhando para a janela.
E a pergunta foi respondida.
- Por que está com tanta raiva?
- Não... Não é isso, mas como você conseguiu? Você não tem nem o dinheiro do aluguel direito!
- Eu a achei na rua.
- Qual é, conta outra!
- Naquele beco sinistro.
Ela virou para mim.
- Ai meu Deus, sério? – até ela sabia que tudo era possível naquele beco escuro.
- Anham!
- Mike! E o que vai fazer com ela?
- Vou ficar com ela. Ela é como uma empregada não é? Esse lugar tá precisando de uma arrumação. – olhei para Sunny - Não se ofenda.
- Não me ofendi. – ela piscou umas três vezes – mas Mike, você tem que entender que ela não é nenhum cachorro vira-lata, é um robô. E sem um bom chip de memória, ela não servirá para nada!
- Ué, e ela não tem um desses?
- Aparentemente não. Não reparou que ela não falou nada até agora? Ela não sabe como falar, sua memória está completamente vazia.
- E quanto custa esse chip?
- Uns 500 dólares.
- Droga. – coloquei as mãos na cabeça. – vou ter que me livrar mesmo dela.
- É, vai. – ela sentou do meu lado.
Sunny passou a mão esquerda no meu ombro, como se implorasse para eu ficar bem. E de fato, eu estava meio triste, de alguma forma, sentia que eu não podia fazer aquilo com aquela Persocom, onde eu a deixaria? Ela podia muito bem arranjar um emprego no Hooters! Seria errado, seria abusar de um ser... Que nem órgãos tem!
- Naaaaaaaaaaaa!
- O que foi isso? – Levantei a cabeça.
- Não sei. Veio do seu quarto.
- Naaaaaaaaaaaa!
Só poderia ser ela! Corremos para o quarto, esperando ver algum desastre, mas pelo contrário, tudo estava em ordem, a Robô apenas estava rindo do programa do Bob Esponja.
- Ah, que susto você nos deu.
- Naaaaaaaaa! Mike! – ela se levantou de frente para mim.
- Ela disse seu nome? – Sunny olhou para mim indignada.
- Pelo visto sim, isso não deveria acontecer?
- Bem, não...
- Naaaaaaaaaaaaaaa! Mike!
A Persocon me abraçou.
- O que ela está fazendo? – perguntei.
- Pelo visto, agradecendo. – Sunny deu uma risadinha baixa.
- Ei, ei, porque está rindo? Isso é seguro?
- Seu bobo, claro que é seguro. Mas é que parece que ela também sentiu algo quando te encontrou.
- Ahm, que...
- Naaaaaaaaa! – e ela sorriu.
Era um sorriso tão lindo, tão meigo, tão encantador! Senti meu coração parar por um segundo, e depois voltar ao normal.
- Acho melhor vocês dormirem, e amanhã a gente vai na PersoComp.
- PersoComp, o que é isso?
- A companhia que faz Persocons.
- Ah, claro... Eu sabia!
Ela ainda me abraçava.
- Boa noite pro casal. – o tom de Sun pareceu de deboche.
- Ei S, não me deixa aqui sozinho com ela! Sei lá o que ela pode fazer!
Respirei fundo.
- Naaaaaaa, Mike!
Separei uma blusa social azul que eu tinha e lhe emprestei.
- Naaaaa, Bonita!
- Ei, afinal de contas, você talvez nem precise de um chip de memória. – passei a mão na sua cabeça. – Você vai dormir aqui, eu durmo no sofá.
- Boa noite! – continuei.
Logo que sai, ela deitou por baixo do edredom e aparentemente dormiu logo.