Fic - Um Novo Dia Para Amar

No dia seguinte, nada tinha melhorado. Amy estava de péssimo humor, porque passou a noite sem dormir. Ten continuava com um baixo astral, tanto que nem dormiu mais do que o que devia. Nyamo não tinha voltado para casa. Lass ainda parecia o mesmo. Só a viram novamente na aula, mas, de todas as maneiras, Amy tentou conversar com ela, mas ela procurava falar o menos possível. Pra piorar, Na aula de E.F, Nyamo descontou todo o seu ódio na coitada da Hollie. Por ter errado um arremesso, Nyamo fez um escândalo.

- Me desculpe, eu juro que vou tentar melhorar! - Hollie se desculpava por nada. Mas Nyamo estava tão enfurecida que nem notava isso. Parecia estar com mais raiva dela do que do próprio Ten. E, do nada ela deu um tapa no rosto de Hollie. Ela só olhou para a Nyamo com os olhos cheios de lágrimas, que disse, mostrando a mão e sua superioridade:

- Tinha um mosquito no seu rosto e você deixou cair uma coisa. - Hollie, inocentemente, abaixou o rosto e perguntou o que era.

- E o que foi?

- Sua cara! - Ao dizer isso, se virou e saiu da quadra. Ela simplesmente não entendia como Ten não podia mais confiar nela. Desde o momento em que ele chegou, eles se tornaram amigos e sempre diziam o que pensavam um para o outro, mas o que tinha acontecido no dia anterior tinha sido imperdoável! De noite, Amy entrou no seu quarto e se sentou na cama ao lado da Nyamo. Ela estava deitada estudando, coisa bastante rara.

- Nyamo, eu posso conversar com você?

- Vocês não vão me deixar em paz até essa situação tenha se resolvido não é? Desista, nada do que você faça ou diga vai mudar o que eu penso e se é um problema que eu tenho que resolver só com o Ten!

- E como pretende resolver isso se você não fala e o evita o tempo todo? - Foi ai que Nya percebeu. E se ele estivesse querendo se desculpar, mas tivesse chance? Para não se sentir pior do que já estava, ela simplesmente descartou essa idéia.

- Impossível.

- Nya, por que você não me conta o que aconteceu? Eu também sou sua amiga. - Ao ouvir essas palavras, Nyamo simplesmente se enfureceu.

- Amiga? MINHA AMIGA? SERÁ QUE VOCÊ REALMENTE SABE O SIGNIFICADO DE AMIZADE? VOCÊ É SÓ UMA CHATA QUE NÃO PARA DE ME PERGUNTAR O QUE ACONTECEU! AMIGOS DE VERDADE ENTENDERIAM O PROBLEMA E DARIAM O FORA!

- E é isso que eu estou tentando fazer Nyamo! Entender o seu problema, mas parece que é impossível! - Isso fez a Nya se jogar em seus braços e começar a chorar novamente.

- Me desculpe Amy! - Ela falava entre os soluços. - Eu não sei mais o que é verdade e o que é mentira!

- Nyamo, você gosta do Ten, não é? - Essa pergunta fez Nyamo se afastar dela e parar de chorar. Ela nunca tinha pensado nisso. Ela nem mesmo sabia o que sentia por ele. Pra ela, Ten era o Ten. Só isso. Ele era engraçado, irritante, chato, tagarela, divertido, convencido e só pensava em comida, mas esse era seu jeito de ser e, pra ela, estava bom assim.

Amy saiu depois que percebeu que ela não ia falar mais nada. Pra ela, só isso explicava tudo o que tinha acontecido. Quando ela desceu as escadas, ela viu Ten deitado no sofá assistindo televisão enquanto comia batata frita.

- Ten, posso te fazer uma pergunta?

- Manda.

- O que aconteceu ontem? Tipo, detalhadamente, o que você fez ontem no intervalo?

- Quando a gente saiu da sala eu disse que ia à cantina. Eu cheguei lá e fiquei em dúvida entre o bolo de morango e o de chocolate. Quando eu escolhi, eu fui pro jardim e encontrei você e o Lass. A Nyamo já não estava lá. - Ele respondeu com pouco interesse e sem tirar os olhos da televisão.

- E depois?

- Comi o bolo!

- E faz idéia do porque da Nya está assim? Ou tem algum palpite?

- Nada me ocorre no momento. Eu acho que ela enlouqueceu!

- Nossa, esclarecedor! - Amy revirou os olhos e subiu para o seu quarto. Enquanto isso, Nyamo não parava de refletir sobre o que Amy tinha dito.

Será por isso que ela tinha ficado com tanta raiva? Porque ela gostava do Ten? E, se fosse isso mesmo, como ela podia resolver isso? Ela odiava aquele clima tenso e odiava mais ainda saber que era a culpada. O que ela não compreendia é que, se ela gostava do Ten e tinha descoberto isso, por que se sentia da mesma maneira. Nada tinha mudado. Ela continuava a mesma Nyamo de séculos atrás. Ela se levantou e foi até o quarto da Amy. Ela nem saiu da porta, só perguntou:

- Amy, quando você começou a gostar do Lass, você se sentiu de um jeito diferente? - Ela só levantou os olhos do livro, espantada. - Eu acho que o Ten tá certo, você tá enlouquecendo. - Depois de dizer isso, pois a mão na boca, em sinal que comentou o que era para ela não saber. Nyamo só foi até a escada e gritou:

- Você faz isso e EU estou ficando louca? Você é um idiota, sabia?

- Se isso é uma tentativa desesperada de me atingir, vai ter que se esforçar um pouco mais. Escuto isso todos os dias! Vai ter que pensar num insulto melhor! - Ele respondeu friamente e ainda sem tirar os olhos da TV.

- Você é um inútil que não serve para nada!

- Normalmente, é isso que os inúteis fazem! Continue tentando! - Ele fez um pequeno sorriso provocador, sem olhar para Nyamo, o que a deixava com mais raiva ainda. - Vamos, eu sei que você é capaz!

Ela saiu correndo e voltou para o quarto. A noite não tinha como ficar melhor. Mew desceu da árvore que havia do lado da casa. Não importava se os primeiros tinham sido os dois idiotas. O importante era criar confusão!

De manhã bem cedo, Elena gritava de manhã para que Kyoshiro e Sumire descessem as escadas. Ela dizia ter trazido uma surpresa para eles. Kyoshiro já acordou irritado, mas desceu as escadas sem reclamar muito. Sumire vinha logo atrás, escondida.

- Vejam o que eu achei! - Elena usava um tom de voz tão alegre que mais parecia ter encontrado um diamante na caverna de um urso. De fato, melas condições e termos de educação, aquela criança parecia ter saído de uma caverna de urso, mas nada se assemelhava a um diamante. Tudo o que os dois conseguiam ver era um garoto aparentando ter 15 anos enrolado num coberto com uma cara abusada. Os cabelos acinzentados estavam sujos de terra e continham vários pedaços de madeira. Ele não parecia tomar banhos há dias e sua bochecha estava manchada de sangue.

- Meus parabéns Elena, você achou uma raça extinta de ser humano. 99.9% dos humanos se desenvolveram a milhares de anos, mas esse ai ficou para trás. Eu vou voltar a dormir! - Kyoshiro deu meia volta e voltou pro seu quarto. Sumire ficou parada, completamente muda. Ela nunca tinha visto um menino tão bonito com uma aparência tão deprimente.

- Sumire, por favor, mostre a ele um quarto limpo e peça uma muda de roupas novas para o Kyoshiro. Preciso ir - o hospital está cheio de pessoas doentes. Se correr, talvez consiga evitá-los. Tchauzinho! - Elena saiu e bateu a porta. Ficar sozinha deixava Sumire nervosa. O garoto tinha se virado para ver Elena batendo a porta. Quando se virou, ele apenas encarou Sumire, o que a deixou mais encabulada ainda.

- Bem ... Venha comigo, vou te mostrar o seu quarto. - Ele apenas fechou os olhos, como se concordasse e a seguiu. Sumire não era a melhor pessoa em conversas, mas estava bastante curiosa. - Então, a Elena achou você hoje? - Ela se virou para trás, mas ele apenas afirmou com a cabeça. Ela abriu a posta de um quarto vazio ao lado do seu. Tinha uma cama de solteiro com lençóis brancos, uma mesa vazia ao lado da cama, uma estante e um armário. Havia um pequeno banheiro dentro do quarto. Sumire abriu as cortinas, mas percebeu que aquilo incomodava bastante aquele garoto. Ela as fechou novamente, sem perguntar nada. Ele ficou olhando para a cama como se fosse o objeto mais estranho que já tinha visto na sua vida.

- É uma cama. Você pode deitar nela se quiser! - Sumire explicou o que o fez com que ele a encarasse novamente. Ela saiu do quarto e manteve a porta aberta. Pediu a Kyoshiro algumas roupas como Elena havia pedido. Realmente, ele não se incomodou em ceder algumas. Quando ela voltou, viu que ele observava o banheiro agora. Ela deixou as roupas em cima da cama e explicou - Se você quiser tomar um banho, é só usar o banheiro. - Ele a encarou novamente. Ela perguntou se ele queria beber água ou comer, mas ele moveu a cabeça recusando. Ela saiu do quaro e fechou a porta. Elena não tinha parado de ajudar os Sangues-Frios sem lar. Ela pretendia mesmo continuar com seu plano maluco.

Ela voltou para seu quarto e voltou a ler o livro que ela estava lendo. Eles ainda não haviam sido matriculados em nenhuma escola. Elena disse que, primeiro, eles tinham que se acostumar a viver entre os humanos para que possam ir para a escola. Ela não via a hora de poder estudar, fazer amigas, conversar sobre coisas que toda garota conversa. Roupas, maquiagem, garotos, filmes, seriados e outras coisas mais. Mas ela nunca pôde freqüentar uma escola. Durante 5 anos, tinha sido somente ela e Kyoshiro naquela casa sozinhos. Ele geralmente ficava trancado no quarto sem dar uma palavra, então ela não tinha muito que fazer. Mas agora tinha chegado esse garoto novo. O dia passou rapidamente e quando ela olhou no seu relógio, já era 5 da tarde. Ela foi até o quarto do garoto novo e bateu na porta. Não houve resposta. Ela entrou e se surpreendeu. As roupas estavam no mesmo lugar que ela havia deixado e ele estava sentado embaixo da mesa de estudos, ainda enrolado no cobertor.

Sumire se aproximou dele. Parecia inseguro. Parecia estar com medo. Ela se sentou ao seu lado debaixo da mesa. Ela pegou um lenço e passou no seu rosto, tentando tirar a mancha de sangue que tinha na sua bochecha. Ele pareceu bastante incomodado mas ela não parou.

- Você sabe o seu nome? - Ele negou com a cabeça. - Então, posso te chamar de Takahisa? - Ele a encarou por um minuto e respondeu:

- Tá. - Ela abriu um sorriso e disse alegremente: - Que bom, você sabe falar! - Ele apenas virou o rosto e ficou olhando para o chão.

- Eu não quero uma família. Não mais. - Ele parecia realmente aborrecido enquanto falava. Apesar do que tinha dito, ela estava feliz em vê-lo falando.

- Não diga isso! É muito melhor ter amigos e uma família do que viver sozinho, não acha? Não se sentia solitário quando estava sozinho? - Ele apenas a encarou.

- Talvez. - Ela o abraçou e respondeu: - De qualquer forma seja bem vindo a família. Este é mundo real! Ele é uma bosta, você vai adorar!

Ele riu baixinho.

- Se precisar de qualquer coisa, apenas me peça. De hoje em diante, eu sou sua melhor amiga, certo?

Eram aquelas as lembranças que Nyamo possuía do primeiro dia do Ten naquela família. Anos depois, Sumire se tornara Nyamo. Kyoshiro agora ela Lass e o dito Takahisa era o Ten. Ele não era mais um garotinho enrolado num cobertor, com o cabelo cheio de terra embaixo de uma mesa. Ela realmente gostava quando ele dependia dela para quase tudo. Ela finalmente teria companhia. E nunca mais estaria sozinha. Mas não era o que estava acontecendo. Agora ela se sentia mais só do que nunca. Pior do que não ter companhia, é tê-la e depois perdê-la. Ela simplesmente queria que tudo voltasse ao normal.